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Africa pode dar fim à Malária

África pode dar fim à malária mas a organização africana que combate a doença precisa de dinheiro.

Mais de 65 anos atrás, os americanos acharam uma forma de garantir que ninguém mais morresse de malária. A doença sumiu dos EUA em 1951, graças às estratégias do Escritório de Controle da Malária em Zonas de Guerra, criado em 1942, e do Centro de Doenças Transmissíveis (hoje Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, CDC), fundado em 1946. A ideia para montar os Centros de Controle e Prevenção de Doenças da própria África (o CDC África) foi concebida em 2013 e formalizada após o pior surto de ebola da história, no ano seguinte. O CDC África, lançado oficialmente em janeiro deste ano, é uma parceria em crescimento, que visa desenvolver a capacidade dos países para ajudar a criar um mundo que seja seguro e protegido contra ameaças de doenças infecciosas. Assim como os americanos tornaram a formação de seus CDC uma prioridade, os africanos têm a responsabilidade de assegurar o financiamento e o desenvolvimento de nosso CDC, para evitar que as doenças alterem ainda mais o curso de nossa transformação socioeconômica. O ebola é aterrorizante para muitas pessoas, mas a malária é mais devastadora: as últimas estatísticas da Organização Mundial da Saúde mostram que mais de 400 mil pessoas morreram por causa dela em 2015, e 92% das mortes ocorreram na África subsaariana. Além disso, seis países na África respondem por 47% de todos os casos de malária no mundo. Com base em meus anos de trabalho para organizações como o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, o Programa de Desenvolvimento das Na-ções Unidas, a Comissão Econômica para a África da ONU e o Fundo de Solidariedade África contra o Ebola, vejo três prioridades necessárias para gerar um impacto e acabar com a malária: Primeiro, devemos fortalecer e construir mecanismos para coletar dados em tempo real de comunidades em toda a África, para a tomada consciente de decisões. A expansão de telefones celulares é um método importante para conseguir isso, porque conectam pessoas e seus dados de saúde para intervenções direcionadas a fim de prevenir e deter surtos. O CDC África e seus cinco Centros de Colaboração Regional devem liderar a transição que asseguraria a coleta, a divulgação e a interpretação consistente de dados. Segundo, devemos proporcionar novos recursos para apoiar o CDC África. O custo do ebola para Serra Leoa, Guiné e Libéria, foco do surto, chegou a US$ 4 bilhões. O setor privado africano arrecadou US$ 34 milhões para acabar com o ebola de vez. Essa dinâmica deve continuar para o CDC fundado pela África. Alguns países africanos e organizações similares de saúde em todo o mundo forneceram recursos iniciais para que o CDC África fosse lançado, mas não basta. Os africanos têm a responsabilidade de financiar mais US$ 34 milhões nos próximos dois anos para tornar a África mais segura e mais forte para o crescimento econômico.Em terceiro lugar, devemos investir de outras formas para acabar com a malária. O setor privado e a classe média criativa são a chave para acabar com a doença para sempre. Não conseguiremos isso sem cobertura de saúde universal, através de um CDC África totalmente financiado e operacional.Já existem sinais positivos de que os recentes aumentos de recursos, a determinação política e os compromissos das comunidades estão levando à possibilidade de eliminação da malária e, em última instância, sua erradicação. No Senegal, por exemplo, hoje só 3,3% das visitas ambulatoriais estão relacionadas à malá-ria, abaixo dos 36% registrados há 15 anos. Apesar de a transformação ser impressionante, a eliminação completa da doença no Senegal e em outros países não pode ser alcançada sem esforços regionais e continentais apoiados por dados e provas mais fortes. A malária, assim como outras doenças que podem ser prevenidas, continua a desafiar nossa capacidade de transformar nossas economias no ritmo necessário para dar suporte ao crescimento da nossa população. Em última análise, para que a África consiga erradicar a malária, é necessário traduzir o mandato do CDC África dado pela União Africana num mecanismo financiado capaz de prover informações para o investimento em saúde. Acabar com a malária foi o ímpeto que levou a um CDC forte e confiável nos EUA, e agora a África tem a oportunidade de repetir esse sucesso — idealmente até 2030, quando o mundo se reúne para avaliar o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Temos a oportunidade de salvar muitas vidas através do CDC África. Vamos tornar isso realidade.



Fonte: Scientific American Brasil 2017